Caro amigo Adrian,
Escrevo esta carta pra te contar o último sonho que tive que foi bem estranho. Estava deitado, dormindo, quando de repente me vejo tomado por estranhas criaturas feitas de papel e com varias patas que andavam por cima de mim. Levantei assustado e corri para o canto do quarto, o quarto inteiro repousava num intenso breu que não permitia enxergar a mais de dois palmos de distância. Mas antes que apavorado corresse pude ver que as criaturas na verdade eram aranhas, aranhas do tamanho da minha mão, e elas eram feitas de papel em formato espiral, e claro só posso dizer que eram aranhas porque sonhava, e este fato me dava certeza de que aquelas espirais eram aranhas gigantes. Muito apavorado e não podendo mais vê-las tentei tatear com os pés para sentir se elas estavam realmente na cama, que cena deplorável. Mas eu as senti, e retirando o pé comecei a tremer e a suar frio, estava escuro e eu não sabia por onde mais poderiam estar àquelas criaturas asquerosas mesmo que geometricamente estáveis. Tomando-me de coragem salte por cima da cama, dessa vez sem senti-las, corri para o interruptor e acendi a luz. Nada, nenhuma aranha, ou espiral caminhante. Apenas a cama revirada e a imagem do meu corpo em suor estampada no lençol.
Até ai você deve estar se perguntando caro amigo o porque de eu ter te escrito esta carta para contar-te apenas um sonho que talvez nada tenha de tão interessante. Então, eu sonhava, é verdade, mas estava acordado, não sei o que se passou, pois eu não dormia, eu realmente estava de pé no meu quarto, eu não dormia Adrian!
Temo que eu esteja adoecendo amigo.
Do mais sabes de tudo, e tudo corre conforme deve correr.
Quatro de fevereiro de dois mil e onze.
Boris.
“A lâmpada apagou-se.” – Álvares de Azevedo
Imagem de M. C. Escher
Música Não sonho mais – Chico Buarque