domingo, 31 de maio de 2009

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Vazio,...

















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Imagem de Henry Fuseli

domingo, 24 de maio de 2009

Curtas


Uma escada, uma escada sem fim. Ao redor escuridão. Só a escada é clara para nos. Podemos ver a alguns degraus de distancia, não mais que isso. A cada passo que damos o degrau de baixo desaparece, não podemos voltar. Se quisermos podemos não subir, porém depois que colocamos nosso peso em um degrau e retiramos o peso do outro não podemos mais voltar atrás. Certos degraus nos assombram. Nunca sabemos qual será o ultimo nem quando aquele lá atrás irá voltar. Sim, é como se eles caíssem, e caindo alguns parecem novamente acertar a escada. De alguns não queremos nos desfazer, tentamos agarrá-los ou simplesmente não sair deles. Mas infelizmente temos de continuar subindo. Continuar sempre enfrente. Pois assim é a vida.

Imagem de Salvador Dali

domingo, 17 de maio de 2009

Terceira Parte – Apresento-lhes a Roda de Fogo



Pequena Nota – Não sei se os poucos leitores deste blog sentiram minha ausência no ultimo domingo, mas mesmo assim venho dizer-lhes que o motivo foi ter eu adoecido e que agora já me encontro curado. Quanto ao post de hoje, sei ser confuso e provavelmente sem um final ainda. Não sei quando continuarei essas historia que cada vez se alarga mais, porém quando o fizer podem estar certo de que a postarei por essas bandas daqui. Um Grande Abraço a todos.

Ensaio Circense- Doppelgänger


Doppelgänger - Crime


Uma noite quando me dirigia para o lugar onde nos encontrávamos, que mudava obviamente de cidade para cidade, mas que era sempre no lugar mais alto que conseguíamos encontrar, ouvi uma discussão, uns barulhos secos e um grito. Corri, chorava enquanto corria, não sabia porque chorava nem porque corria. Minha consciência me dizia que não era ele, sempre se atrasava, não tinha por que ser ele. Quando me aproximei da clareira que ficava no alto de uma colina vi uma pessoa em pé com um pedaço de madeira na mão, enxuguei-me das lagrimas e gritei a pessoa perguntando-lhe se estava tudo bem, a resposta me deixará mais preocupado do que poderia imaginar. A pessoa em pé era Eu. Quando me aproximei ele, que na verdade era eu, largou o pedaço de pau e começou a correr. Quando cheguei ao topo do morro vi. E era ele. Era Philip, meu amor. Morto, com a cabeça rachada sangrando mais do que deveria alguém que tivesse qualquer perspectiva de viver. Só naquele instante pude perceber o quanto o amava, o quanto queria que ele voltasse a viver, o quanto eu simplesmente o queria. Era ele. Ele.

Meu tio então apareceu ao meu lado, com a mão ensangüentada, e a camisa também, tocou me o ombro, não me lembro dele ter me perguntado nada. Mas com certeza deve de telo feito. E eu só podendo responder-lhe o que fiz devo telo dito que eu o havia matado. Não me lembro, e nem sei se quero me lembrar. Só sei que quando me dei por mim novamente estava ensacando o corpo de Philip, era ele, meu amor. Morto. Era ele. Ele. Meu tio me explicava o ocorrido, me dizendo, enquanto apontava para Philip e o chamava de bastardo, que ele vinha aqui para encontra-se com minha tia, que os dois tinham um caso e que sedo ou tarde aquilo iría acabar acontecendo. Então era verdade, eu havia matado Philip. Eu havia descoberto tudo e por isso o matara. O que eu não entendo é como Philip poderia ter me enganado daquele jeito. Todos no circo sabiam, menos meu tio, que minha tia tinha um caso era com meu Pai e não com Philip, será que ele me traiu?

Minha cabeça estava a mil. Philip estava morto, e isso eu jamais poderia mudar e nem quem o matará que era ninguém menos que eu mesmo, nos os artistas de circos somos vistos como os ciganos eram vistos antigamente, enquanto nos apresentamos somos maravilhosos, porém a vida que não se restringe as duas horas de show, somos meros ninguens pessoas a margem sem direitos ou deveres, sempre nos olham entranho nas cidades. Enquanto ajudava meu tio a ensacar o corpo que não parava de sangrar pensava no que deveria fazer. Cavamos uma cova rasa, ali mesmo onde nos últimos meses me encontrará com Philip, ajudei meu tio a fechar o buraco e voltamos para o circo. Na volta ele me aconselhou a não contar a ninguém o que eu, havia feito. Era tarde, todos dormiam, tomamos banho e queimamos as roupas, daqui a uma semana iríamos embora daquela cidade e ninguém mais poderia nos acusar de qualquer crime, me dizia meu tio, que continuava dizendo ser quase impossível que –lhe achassem o corpo.

O hoje é o dia seguinte ao fato que estou a contar. Escrever. Por que escrevo? Pra quem escrevo? Amasso folhas de papel em branco, desejo escrever, preciso escrever. Escrevo para revelar o mal entendido, para proferir o meu amor por Philip, para parar de sofrer. Porém essa dor no meu peito não cessa, é a dor de um amor perdido antes mesmo que eu tivesse a consciência de tê-lo tido. Assino a folha e deixo dentro do trailer de Philip no bolso de sua camisa. Apanho uma muda de roupa e com a cara ainda maquiada pego carona num ônibus que vai dar na praia, quero ver o mar. O palhaço quer mergulhar.

Fim Parte Dois


Imagem de Marc Ferrez


A vida itinerante - Ensaio Circense

Independente apesar de interligado, igual a vida.

domingo, 3 de maio de 2009

Segunda Parte – Apresento-lhes o Trapezista


Ensaio Circense- Doppelgänger

Doppelgänger - Crime


Ele chegou numa manhã de terça-feira, eu cortava o capinzal para que pudéssemos armar a tenda. Era trapezista, chamava-se Philip. O circo não precisava de mais, éramos pequenos e gostávamos assim, mas também era real que meus tios estavam envelhecendo, e no circo só quem pode envelhecer é o palhaço, este tende morrer rindo. E exatamente por isso Charles contratou Philip, meu tio não gostou nada da idéia, e sendo minha tia dez anos mais nova do que meu tio, ele acabou rapidamente, depois de alguns meses, o substituindo. Mas isso não foi o pior, Philip acabou se aproximando muito da minha tia, afinal treinavam juntos quase que o dia inteiro e depois se apresentavam à noite. Eu também me aproximei bastante do nosso novo trapezista, afinal tínhamos quase a mesma idade era natural que isso acontecesse. Nos dias de folga saímos juntos à noite para comemorar a apresentação bem sucedida ou simplesmente por não agüentarmos mais as cercanias do circo. Quando não estávamos treinando ficávamos conversando, seja sobre a noite anterior ou sobre qualquer assunto que se possa imaginar, ele era fantástico, sabia muita coisa do mundo e conversava sobre o que quisesse sem parecer idiota, as garotas o adoravam. Todos no circo o adoravam, ele possuía um poder de sedução extraordinário que a todos encantava, a exceção de meu tio, que cada dia que passava parecia mais carrancudo e infeliz de um jeito que eu jamais imaginei ver.

A beleza do prodigioso trapezista era indiscutível. Não sou homossexual gosto muito da visão do corpo feminino, do cheiro do corpo feminino, mas ele de alguma forma também me seduzia, não saberia explicar. Um dia quando voltávamos bêbados de uma pequena festa de uma cidade do interior rolamos morro a baixo em uma ribanceira que de tão bêbados e de tão escura nem quando terminamos de rolar conseguíamos vê-la direito. Lá embaixo bêbados e doloridos ficamos deitados por uns dez minutos rindo sem parar. Quando conseguimos parar de rir e olhamos para o céu ficamos atônitos com a beleza que as estrelas produziam em nossos espíritos mesmo tão distante de nossas cabeças. Nos beijarmos não passou de conseqüência da beleza do momento somada a ternura encadiada pelo álcool. Todavia as conseqüências foram além daquele dia. No dia seguinte quando nos sentamos em um lugar distante e deserto, para conversar sobre o ocorrido do dia anterior e estabelecermos nossas próprias masculinidades afirmando de forma cristalina nossa heterossexualidade, acabamos por fazer sexo. Era noite de lua cheia, nos enrolamos na tenda que estava desamarrada, pois no dia seguinte partíamos. A escuridão nos protegeu dos olhares alheios. Todos dormiam e as luzes da pequena cidade onde estávamos não chegavam a nos iluminar. Não nos víamos nem a um palmo de distancia. Não nos víamos, apenas nos tocávamos. E tenho de confessar-me a meu heterossexual interior que foi muito bom, e ele há de concordar. A partir daquele dia começamos a namorar em segredo, nos beijávamos escondidos, não por vergonha ou medo do que os outros poderiam pensar, mas por medo e preconceito de nos mesmos que imaginamos que o que sentíamos um pelo outro poderia muito bem acabar de um dia para o outro. E acabou.


Continua...

Imagem de Marc Ferrez


A vida itinerante - Ensaio Circense
Independente apesar de interligado, igual a vida.