domingo, 25 de abril de 2010

Curtas


A primeira vez, o primeiro beijo, a primeira fudida. Ah! a conquista, doce conquista. O nó da garganta, o frio na barriga. A vergonha. E depois o alivio, o conforto, ou então a preocupação, a humilhação. A vergonha. Como é bom sentir isso. E depois de cada briga, de cada incerteza voltamos a sentir tudo de novo. Mas o verdadeiro sentir vem apenas na primeira vez. Primeira vez de cada pessoa com cada pessoa. Cada um, um diferente. As peças que tentamos encaixar, e quantas vezes não as forçam até quebrá-las achando assim que nos as encaixamos. Mas na verdade o que muda não se encaixa, se transforma, já não é mais o mesmo. Si é certo eu não sei, se é errado também não.

Tinha os cabelos cacheados e todos os dias pela manhã sentava se no mesmo lugar, segurando apenas uma caneta, um tinteiro e um caderno de folhas vazias. E sentada todas as manhãs no mesmo lugar desenhava o seu mundo, através das folhas sem linhas em páginas e desenhos que não poderíamos reconhecer onde começavam e onde iriam terminar, pois não vivíamos naquele mundo criado. E até hoje eu ainda acho que certas páginas nunca terminariam.


Pudor.


Imagem de Max Ernst

Curtas


Pudor.

Imagem de Marcel Duchamp

domingo, 18 de abril de 2010

Curtas



Mentir é um exercício criativo...
Não é?

Imagem de Glenn Brown

Curtas


O suicidio é uma opção...

Imagem de Juan Casas

domingo, 11 de abril de 2010

Curtas


Quanto mais eu leio mais me sinto afastado do mundo. Mais me sinto afastados das coisas. A vida em si mesma não é prazerosa, entretanto a leitura é. Mas depois de um tempo, e em grandes dosagens, é como se ela te mudasse. Como uma droga. Não sei se ela te destrói, mas com certeza sei que te tira da vida cotidiana.

Imagem de Max Ferguson

Amizade


- Você não é próximo de ninguém!

- Você se engana quando diz que eu não sou próximo de ninguém.

Eu me sinto como se fosse o sol. Claro que sem seu brilho e importância. Ou talvez com seu brilho e importância em relação ao universo, ou seja, mais uma estrela entre bilhões, nem a maior nem a menor, e de certa forma necessária para meia dúzia de corpos celestes que insistem em me rodear. Mas, retomando meu raciocínio, não é que eu não seja próximo de ninguém e sim que eu vivo em ciclo junto as minhas amizades, passando dias inseparáveis como siameses e meses como desconhecidos. Assim sempre possuo pessoas próximas, entretanto que se revezam nesse processo de aproximação e afastamento elíptico. De vez em quando, cabe lembrar, um asteróide entra nessa trajetória, alguns permanecem e se tornam planetas outros simplesmente vão pairar em outros sistemas.

- Ninguém te conhece a fundo verdadeiramente!

- Mas você não pode dizer que eu sou afundo verdadeiramente alguém. Talvez só os mortos possam se dizer, caso possam dizer, que são conhecidos realmente a fundo por alguém. E, aqueles mortos que tiveram suas vidas expostas por extensas (quanto ex) bibliografias possuem prioridade na fila mortuária de seres conhecidos a fundo.

Talvez a metáfora do sol nos valha novamente. Por mais que conheçamos o sol, o estudemos, o investiguemos e previnamos (palavra feia pra diabo) suas atitudes ele ainda guarda algo de místico, algo de indecifrável e indiscernível. Alem do fato de estar constantemente em mudança, com constantes ebulições em sua superfície e por ai vai. Entretanto algo também permanece, algo que nos faz olhá-lo todo dia e recolhesse-lo como o “mesmo”. É esse “mesmo” que meus amigos conhecem, se ele esta nas profundezas abissais do meu ser ou se na superfície mais sensível da minha pele eu não sei, mas não vejo como algo supérfluo.

- Quantos amigos não voltaram dessas elipses?

- Ai que está a diferença fundamental que a principio me separa do sol, ou não. Não sei se o sol sabe, mas nos aqui da terra sabemos que as órbitas seguem certo padrão. Padrão esse que nos faz prever as marés, as estações, o ano, a hora e etc. Entretanto se o sol desconhecesse esses padrões como poderia saber quando, por exemplo, marte passaria mais perto ou mais longe de si?

Assim sou eu. Não sei quando essa aproximação ocorrerá, por isso não se surpreenda se daqui a dez anos eu encontre um grande amigo da infância e nos tratemos como se nunca tivéssemos nos separados, pois é assim que eu sou, e é assim que meus amigos orbitam (essa palavra existe?) ao meu redor. Se me critica de ser superficial por não saber da vida desse meu amigo durante todos esses anos, ou mesmo, quem sabe, de nem sequer me preocupar quanto a isso acredito eu que a aqui uma inversão de valores nesse discurso. Afinal, a superficialidade esta em ele ser o que é para mim (sempre em relação a mim) ou no emprego que ele arrumou ou deixou de arrumar, na mulher com quem se causou ou deixou de casar, os porres que tomou sem mim e os que tomou comigo, as conversas que tivemos das quais esqueceu metade? Onde esta o superficial afinal? Em mim que busco nele o que considero de mais imutável ou em você que busca nele as representações cotidianas que estão a cada segundo em profunda mudança?

Um mesmo homem não pode passar nas mesmas águas de um mesmo rio duas vezes. Certo. Nem as águas de uma piscina estática encontraram o mesmo homem as adentrando por duas vezes. Certo. Porém se fosse assim não seriamos nada além de poeira cósmica. Perderíamos completamente nossa identidade, mas o que percebemos é que algo de fixo se perpetua. Alma? Consciência? Inconsciência? Eu não saberia hoje lhe afirmar categoricamente o que é e nem se parte de mim ou do outro, que é no caso meu amigo, mas sei, que independente da direção em que esse sentimento se dá, que posso sentir algo de fixo, de permanente que me permite olhar uma fotografia de 10 anos atrás e dizer “como mudamos” sem jamais deixarmos de sermos os mesmos.

Sei que o que exponho aqui é um grande problema para muitos, mas a exceção dos juízos de valor acredito que consegui ser minimamente claro.

Imagem de George Segal