domingo, 27 de março de 2011

Curtas




O cavalo dorme na grama onde sem tregua o Sol bate. O homem agachado fotografa a beleza bruta do animal. Para o homem o cavalo parecia posar para sua camera, para o cavalo o homem pareceia atrapalhar o seu banho de sol.

...

Quase inicio um incendio. É engraçado como as coisas são.

Difrente para uma igreja quase me torno um incendiario, não que a beleza do troco bem dado a inquisição não valha a pena, mas as cigarras que cantarolavam iam ter que fuder em chamas. Até que essa também é uma bela imagem, não?

Deus morde mas jamais assopra. E sentundo sua mordida me coloquei entre a mureta e o penhasco para apagar a guimba que eu havia largado. E se ela tivesse caido no meio do morro? Teria eu me pindurado para apagar a chama? São muitas perguntas afinal. A questão é que eu estava de costas para a igreja que ficava em cima de um morro sentado em uma mureta de frente para um ribanceira com alguns montes de capim seco, entretanto na maior parte do morro a vegetação era verde. Agora a pergunta principal é porque eu joguei a guimba no capim seco? A ingrime subida deve ter tirado o sangue do meu cerebro, eu acreito nisso, mas não podemos retirar da guimba a sua culpa, ela que rolando para onde eu não havia mirado que se pronunciou ao suicidio precoce de sua chama ou quem sabe um incendio criminoso? Ou será que eu que pensava nessa idéia e que determinei a guimba mesmo de maneira irrefletida?

São mesmo muitas perguntas.


Imagem de Marc Chagall


Música Cavalo de Pau – Alceu Valença



segunda-feira, 14 de março de 2011

Curtas


Quando eu era pequeno, lá pelos doze anos, eu lembro que tinha um caderno onde colava recortes de jornal com fotos de mulheres nuas, seminuas ou simplesmente lindas. Lembro também que a melhor época do ano pra colar os meus recortes era no carnaval. Como tinha mulher bonita no jornal nesta época do ano! Eu e meu tio, que também acompanhava o meu pequeno caderno-resvista-pornografico, discordávamos um pouco quanto a mulheres, naquela época eu preferia as mulatas com seus vestuários minúsculos e um salto alto enorme sambando no meio da Sapucaí, enquanto ele preferia as loiras atrizes de novela. Bons tempos. Dia desses encontrei esse velho caderno em um baú de coisas velhas. Engraçado como ele já não desperta mais o meu interesse...


Imagem de Henri Cartier-Bresson


Musica I'm a fool to want you - Billie Holiday




sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Cartas


Caro amigo Adrian,

Escrevo esta carta pra te contar o último sonho que tive que foi bem estranho. Estava deitado, dormindo, quando de repente me vejo tomado por estranhas criaturas feitas de papel e com varias patas que andavam por cima de mim. Levantei assustado e corri para o canto do quarto, o quarto inteiro repousava num intenso breu que não permitia enxergar a mais de dois palmos de distância. Mas antes que apavorado corresse pude ver que as criaturas na verdade eram aranhas, aranhas do tamanho da minha mão, e elas eram feitas de papel em formato espiral, e claro só posso dizer que eram aranhas porque sonhava, e este fato me dava certeza de que aquelas espirais eram aranhas gigantes. Muito apavorado e não podendo mais vê-las tentei tatear com os pés para sentir se elas estavam realmente na cama, que cena deplorável. Mas eu as senti, e retirando o pé comecei a tremer e a suar frio, estava escuro e eu não sabia por onde mais poderiam estar àquelas criaturas asquerosas mesmo que geometricamente estáveis. Tomando-me de coragem salte por cima da cama, dessa vez sem senti-las, corri para o interruptor e acendi a luz. Nada, nenhuma aranha, ou espiral caminhante. Apenas a cama revirada e a imagem do meu corpo em suor estampada no lençol.

Até ai você deve estar se perguntando caro amigo o porque de eu ter te escrito esta carta para contar-te apenas um sonho que talvez nada tenha de tão interessante. Então, eu sonhava, é verdade, mas estava acordado, não sei o que se passou, pois eu não dormia, eu realmente estava de pé no meu quarto, eu não dormia Adrian!

Temo que eu esteja adoecendo amigo.

Do mais sabes de tudo, e tudo corre conforme deve correr.


Quatro de fevereiro de dois mil e onze.

Boris.

“A lâmpada apagou-se.” – Álvares de Azevedo

Imagem de M. C. Escher


Música Não sonho mais – Chico Buarque