domingo, 23 de novembro de 2008

Curtas


Ando, ando, ando. Na minha cabeça não estão as pedras do chão, nem as formigas que carregam folhas enormes, nem as fachas que sinalizam onde devo atravessar. Na minha cabeça esta você. A falta de te ver aumenta o meu querer ti ter. Ti ter não para mim, não como minha. Ti ter por breves instantes, por breves suspiros, doces palavras, poucas canduras. Simplesmente ti ter. Saber que você só pensa em mim naquele momento e ter a certeza que eu só penso em você. Ser seu, ser meu, ser nosso. Mais apenas por alguns instantes. Antes que a monotonia venha sentar-se conosco na mesa do bar. Antes que as pregas do tempo retirem o assunto, não de nossas palavras; por que estas jamais serão vazias, mais de nossos olhares. Antes que eu te chame por apelidos carinhosos, antes que nos conheçamos por inteiro em cada detalhe. É antes disso que ti desejo. É antes disso que quero estar com você.

E depois? Você me pergunta. Depois não sei. Agora quero o segundo, quero a chuva que cai, não a poça que se forma, quero o calor que aquece, não os raios que iluminam, quero sangue, não soro, quero guerra, não paz. Quero você, não o futuro.

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Esses breves instantes se tornaram verdade. O futuro se mostra sempre próximos daqueles que amam.

Levantou-se e andou até o lado onde ela estava sentada. Partia no mesmo sentido de quem ia ao banheiro, ela em nada desconfiou. Estancou de repente e ao lado dela se ajoelhou. Do bolso direito retirou uma caixinha que abriu e mostrou a ela. Ela abriu e lá tinha não um anel mais um bilhete. Onde estava escrito:

-Te amo, não sei até quando. Casa comigo e te amarei até último instante em que te amar.

Viveram felizes para sempre...

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Passou. Você passou. Não te quero mais.

Foram as últimas palavras que ela disse. Depois levantou, pegou o coração dele que estava no prato e pediu ao garçon que embrulhasse pra viagem. Guardo na bolsa para comer mais tarde. Ele, já vazio, não reclamou. Encontraram-se como amantes, se despediram como amigos, se odiaram como inimigos.

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Queria escrever uma historia de amor que desse certo. Porém preso pela primazia inconstante dos fatos. Me perdoe a falta de credibilidade na vida mas entenda que até o fim será muito mais que só despedida. Ame-me a cada segundo como se fosse o último, pois assim viveremos minutos infinitos.


Imagem de Julien Dupré

2 comentários:

Lola disse...

"Não há abrigo contra o mal
Nem sequer a ilha idílica na qual
A mulher e o homem vivam afinal
Qual se quer
Tão só de amor num canto qualquer..."
(Roberta Sá - Pedro Luís- Samba de amor e ódio)

Manuela d`Eça Neves disse...

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

O seu santo nome - Drummond.

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As pessoas perigosas são as melhores.
:)