Ensaio Circense- Doppelgänger
Doppelgänger - Crime
Uma noite quando me dirigia para o lugar onde nos encontrávamos, que mudava obviamente de cidade para cidade, mas que era sempre no lugar mais alto que conseguíamos encontrar, ouvi uma discussão, uns barulhos secos e um grito. Corri, chorava enquanto corria, não sabia porque chorava nem porque corria. Minha consciência me dizia que não era ele, sempre se atrasava, não tinha por que ser ele. Quando me aproximei da clareira que ficava no alto de uma colina vi uma pessoa em pé com um pedaço de madeira na mão, enxuguei-me das lagrimas e gritei a pessoa perguntando-lhe se estava tudo bem, a resposta me deixará mais preocupado do que poderia imaginar. A pessoa em pé era Eu. Quando me aproximei ele, que na verdade era eu, largou o pedaço de pau e começou a correr. Quando cheguei ao topo do morro vi. E era ele. Era Philip, meu amor. Morto, com a cabeça rachada sangrando mais do que deveria alguém que tivesse qualquer perspectiva de viver. Só naquele instante pude perceber o quanto o amava, o quanto queria que ele voltasse a viver, o quanto eu simplesmente o queria. Era ele. Ele.
Meu tio então apareceu ao meu lado, com a mão ensangüentada, e a camisa também, tocou me o ombro, não me lembro dele ter me perguntado nada. Mas com certeza deve de telo feito. E eu só podendo responder-lhe o que fiz devo telo dito que eu o havia matado. Não me lembro, e nem sei se quero me lembrar. Só sei que quando me dei por mim novamente estava ensacando o corpo de Philip, era ele, meu amor. Morto. Era ele. Ele. Meu tio me explicava o ocorrido, me dizendo, enquanto apontava para Philip e o chamava de bastardo, que ele vinha aqui para encontra-se com minha tia, que os dois tinham um caso e que sedo ou tarde aquilo iría acabar acontecendo. Então era verdade, eu havia matado Philip. Eu havia descoberto tudo e por isso o matara. O que eu não entendo é como Philip poderia ter me enganado daquele jeito. Todos no circo sabiam, menos meu tio, que minha tia tinha um caso era com meu Pai e não com Philip, será que ele me traiu?
Minha cabeça estava a mil. Philip estava morto, e isso eu jamais poderia mudar e nem quem o matará que era ninguém menos que eu mesmo, nos os artistas de circos somos vistos como os ciganos eram vistos antigamente, enquanto nos apresentamos somos maravilhosos, porém a vida que não se restringe as duas horas de show, somos meros ninguens pessoas a margem sem direitos ou deveres, sempre nos olham entranho nas cidades. Enquanto ajudava meu tio a ensacar o corpo que não parava de sangrar pensava no que deveria fazer. Cavamos uma cova rasa, ali mesmo onde nos últimos meses me encontrará com Philip, ajudei meu tio a fechar o buraco e voltamos para o circo. Na volta ele me aconselhou a não contar a ninguém o que eu, havia feito. Era tarde, todos dormiam, tomamos banho e queimamos as roupas, daqui a uma semana iríamos embora daquela cidade e ninguém mais poderia nos acusar de qualquer crime, me dizia meu tio, que continuava dizendo ser quase impossível que –lhe achassem o corpo.
O hoje é o dia seguinte ao fato que estou a contar. Escrever. Por que escrevo? Pra quem escrevo? Amasso folhas de papel em branco, desejo escrever, preciso escrever. Escrevo para revelar o mal entendido, para proferir o meu amor por Philip, para parar de sofrer. Porém essa dor no meu peito não cessa, é a dor de um amor perdido antes mesmo que eu tivesse a consciência de tê-lo tido. Assino a folha e deixo dentro do trailer de Philip no bolso de sua camisa. Apanho uma muda de roupa e com a cara ainda maquiada pego carona num ônibus que vai dar na praia, quero ver o mar. O palhaço quer mergulhar.
Fim Parte Dois
Imagem de Marc Ferrez
A vida itinerante - Ensaio Circense
Um comentário:
"que lhes escrevo agora e em verdade." (primeira parte).
como deve ser bom poder mentir, poder ser um fingidor. na ficção não tem kant, nem habermas. não tem ética, tem somente estética e metafísica. paro de ler esse bolg hj... pela minha culpa de ser eu mesmo.
Postar um comentário