sábado, 29 de março de 2008

Segunda de manhã


Todo dia, todo dia. Todo dia ele estava lá. Quando não estava eu simplesmente não lembrava se o havia visto ou não. Preferia desconfiar de mim mesmo, a pensar que ele poderia não estar lá. Ele não trabalhava lá, e muito menos morava. Todos os dias ele, da mesma forma; sem camisa com uma calça jeans surrada, se sentava, enfrente ao muro da escola. Eu não estudava naquela escola. Mas assim como ele eu também passava enfrente dela, a diferença que não era sutil; que mais se assemelhava a um abismo, era que enquanto eu passava reclamando da vida, ou preocupado com a mesma, aquele senhor parecia não se importar com nada. Não que ele não tivesse problemas. Com certeza os tinha, e com mais certeza ainda posso dizer que eram piores que os meus.

Mas como posso dizer o que acabei de falar. Como posso dizer que os problemas daquele senhor são mais ou menos fáceis de serem resolvidos. Afinal problemas foram feitos para serem resolvidos, ou será que eles foram feitos, assim como as leis, para serem convividos? Afinal quem nunca resolveu um problema e logo em seguida tropeçou em um outro. Não vou dizer que os problemas não se diferem uns dos outros, isso seria uma estupidez. Entretanto por mais diferentes que possam ser os problemas, estes não podem entrar em uma lista de classificação, não posso dizer que o meu é mais problemático do que o seu, pois os problemas variam mais pela subjetividade de seu autor do que da problemática de sua situação. O difícil para um pode não ser para dois, e ate mesmo nem ser problema para três.

Voltando ao senhor sentado, o que mais me fascina não é o grau de seu problema nem a situação em que ele esta, mais que lá estando, quieto, a banhar-se no sol da manhã seja ele, não só meu, mas de todos que ali passam, esse marco, esse pólo de atenção e paz, e mesmo assim eu duvide, que alguém saiba o seu nome. O que é uma pessoa sem nome? O que é um nome sem pessoa? Como alguém pode ser tão importante sem ter um nome? E como um nome pode ser tão importante sem uma pessoa?

Para cada uma dessas perguntas possuímos um exemplo, uma idéia, um pensamento. Para cada exemplo, idéia, pensamento, um problema. Para mim, aquele senhor não possui nem exemplos, nem idéias, nem pensamentos, simplesmente, estava acima deles naquela manha de segunda.

Imagem de Henri Cartier-Bresson

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