domingo, 2 de novembro de 2008

A Ilha


Por um prefacio as avessas...

Eu tinha um baú. Onde guardava todas as minhas magoas e tristezas. Era um baú grande e antigo. Todo de madeira, com as partes que ligavam as tabuas que o formavam de ferro fundido. Se assemelhava muito a esses baús de piratas que vemos nos filmes americanos. Não sei se o baú era assim por que tinha de sê-lo ou se o era pela imaginação de criança que eu tinha na época que o encontrei. Ficava no meio do meu quarto, e eu nunca havia me dado conta dele, até minha primeira grande tristeza. Não me lembro ao certo qual foi, lembro-me apenas que ele assim me apareceu, e eu já sabia para que servia. Lá fui guardando tudo que eu não queria dentro de mim. Fui guardando e deixando, ele sempre lá, no meio do quarto trancado com uma chave de ouro que eu levava em meu peito. Um dia jurei ter visto minha mãe tropeçar nele, ela disse que foi o tapete, mais eu acho que ela viu o baú, só não queria abri-lo.

Os anos foram passando e os objetos dentro do meu baú aumentando. Um dia tive outra grande magoa, corri pro meu baú, abri e lá coloquei-la. Porem o baú não queria mais fechar. Estava muito cheio e, não sei se vocês sabem, se não, saberão agora que magoas e tristezas não ocupam o mesmo lugar e nem podem ser prensadas, são duras como diamantes e ásperas como pedras. Primeiro pensei em quebrá-las, mais não tinha força. Decidi então que procuraria por uma das pequenas e a tiraria do baú levando a comigo. Comecei a esvaziar o baú, mas o reavivamento destas más lembranças me trouxe lagrimas nos olhos. Tentei guardá-las mais eram muitas e eu já não podia mais me conter. Chorei. Por dias e noites eu chorei.

Após muitos dias e muitas noites, eu em cima da minha cama, que havia se transformado em um barco, percebi que o baú já não estava mais lá. Nem o baú, nem minhas magoas, nem minhas tristezas. Tudo havia ido embora junto das minhas lagrimas. Entretanto minhas lagrimas levaram consigo muito mais do que isto. Levaram o mundo inteiro. Sentindo um tranco no meu barco-cama olhei para trás e vi uma ilha. Pequena e bonita. Muito simples e eu diria até meio simples demais. No meio da ilha encontrei cadernos e canetas nos quais escrevo essa história. Nos quais vocês lêem minhas palavras e interpretam meus signos. Assim surgiu a minha ilha. Mais ainda muito mais tenho para contar-lhes dela. Não que interessem a vocês saberem ou a mim contar. Mais algo, nesse infindo mar salgado nos une. Ainda não sei o que é, e não sei se um dia saberei. Mais até lá nada nos impede de continuar.


Imagem autor desconhecido

3 comentários:

Mayara Bandeira disse...

talvez um dos melhores textos que eu já tenha lido nesse blog.
é tão simples de se ler, porém me fez gostar muito dele, foi diferente...
deve ter me atingido de alguma forma pra ter-me feito dar essa importância.

Vicky disse...

"LEVE COMO LEVE PLUMA
MUITO LEVE LEVE POUSA
NA SIMPLES E SUAVE COISA
SUAVE COISA NENHUMA

SOMBRA SILÊNCIO OU ESPUMA
NUVEM AZUL QUE ARREFECE

SIMPLES E SUAVE COISA
SUAVE COISA NENHUMA
QUE EM TI AMADURECE"

Anônimo disse...

esse post me lembrou uma música do U2, sweetest thing.