Idéias, filosofia, pensamentos. Tudo junto, misturado e triturado. Separado em adição, mal dosado.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Declaração de Desamor
domingo, 27 de abril de 2008
Laura
Toda vez que terminavam suas intensas discussões, transavam, e era simples, como o ponto que se espera sempre ao final de cada frase. E era em ato, tudo novo, suavam. Intrigante era como a raiva dos dois se dissipava, ainda estando com raiva, se faziam por um entre e sai de um sexo selvagem, com unhas, urros, dentro de um ritmo mais animal do que humano, e no fim, sem esperança, não sei ao certo de que, nem um pingo de amor, o gozo, que os limpava de toda raiva, como o pus de uma espinha exprimida até seu fim. Dormiam, fumavam e riam dos seriados americanos na teve no final de cada madrugada. Se entreolhavam como objetos, não havia mais sentimento entre os dois, nem o de rancor, depois do sexo eram apenas dois corpos.
Foi então que ela resolveu voltar a sentir, e passou uma semana evitando telefonemas, campanhias e gritos que a chamassem em um bom tom. Fumava o dobro, eram quase três maços de Malboro por dia, se perdia na janela e na fumaça de seu apertado e quente apartamento em botafogo. Na sua cabeça, a idéia de um verdadeiro fim, mas não sabia como dá-lo a ele, por isso, escondeu-se do mundo e de si mesmo, pintava coisas que não queria, chorava por filmes que não vira. Até que ele parou de procurá-la, e ela rejuvenesceu. Ela não precisava mais se esconder, respirava para encher os pulmões de vida. E, agora sim, tudo era tão mais simples e saboroso.
Eu, da janela do meu apartamento, de frente para o dela, tudo vi. Foi então, quando a vi chorando, escondendo-se do mundo e, principalmente, de si, que decidi parar de procurá-la. Parei de ligar, de tocar sua campanhia e de gritar-lhe em bom tom de baixo de sua janela. Depois de um tempo, ela não mais se escondia, respirava para encher os pulmões de vida, e tudo lhe parecia mais simples e saboroso. Quanto a mim, o que posso dizer? Continuo a vê-la, porém, agora quem chora, se esconde do mundo e de si sou eu, a diferença, é que ela nem me nota.
Imagem de Sir Lawrence Alma-Tadema
Gritado Por:
Sweet Silent - http://petalla.blogspot.com/ -
Adrian Troccoli - http://criticareconstrutiva.blogspot.com/ -
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Ser Humano
Cego. Não. Surdo. Não. Mudo. Não. Insípido. Não. Insensível. Não.
Só estou, só ficarei. Relações humanas não mais enobrecem meu ser. Mas que relação não é humana. Até sozinho comigo mesmo estou me relacionando com um humano. Animal cruel, vil e sem razão alguma, ou pleno dela por inteiro. Nas atitudes mais cruéis dos homens mais vis e que consigo enxergar a verdadeira natureza humana. Coitado de mim, que não consigo ver mais nos homens qualidades, atos nobres, boas ações, nem mesmo em mim. Pessimista, eu? Nem um pouco. Realista, talvez. Porém o mais certo seria dizer sincero, apenas isso. E sincero não significa ser verdadeiro, mas sim confortável.
Estou sentado na ultima fileira do ônibus, aquela de bancos unidos, na qual o contato físico é de certa forma inevitável, mas isso não me incomoda tanto. O coletivo está relativamente cheio. Relativamente cheio significa, em bom português, não estar entupido de gente. Na frente do ônibus entra uma senhora, seu caminhar não é dos melhores, porém também não é dos piores. Meu dilema começa. Primeiro sei que dificilmente alguém irá se levantar, isso costuma acontecer somente em casos de estrema invalides, e às vezes nem assim. O dilema é o seguinte, eu como ser humano, digno do reino dos céus, devo me levantar, e desta forma acenar para o outro lado do ônibus, fazendo com que a senhora atravesse todo o ônibus, aos trancos e barrancos pra se sentar, ou pouco ligar para o que a senhora sente, ou pensando em sua situação devo me erguer e gritar a todos no ônibus que dêem o lugar mais próximo a senhora, ou devo ficar em meu lugar e torcer para que a senhora arrume um bom lugar na frente, ou dentre as varias possibilidades de ação que me resta devo agarrar-me a que mais me agrada?
Sincero não significa ser verdadeiro, mas sim confortável. Entende? Tendo eu varias opções me agarro aquela que mais me conforta. E não venham me dizer que temos de fazer o que e certo, pois o certo só se fez certo por ser recompensado como tal. Ou alguém dentro desta sala acredita que o certo e o errado surgiram de outra forma? Através de uma lei quem sabe, e o que é a lei, além disso, que acabo de dizer, recompensa do que é dito como certo e punição ao seu oposto. Logo não sou verdadeiro, sou confortável, em minha sinceridade.
Cego. Não. Surdo. Não. Mudo. Não. Insípido. Não. Insensível. Não. Sinto, e sentindo vivo, sei quem sente comigo, e me sinto sentindo com eles, mas se meu sentimento não é no sentido que sentes, me desculpe por sentir diferentes.
Imagem de Caravaggio [David and Goliath]
Ps. : Não ia postar hoje, porém varias coisas me fizeram acreditar que hoje se fazia um dia ideal para que eu postasse esse texto. Quem buscar respostas nas perguntas que faço só encontrará mais dúvidas, por isso leia como quem lê os quadrinhos do jornal, e não como quem lê a bula de um remédio tentando encontrar uma doença que o apraz. Não sintas nada por mim, pois não é de mim que escrevo, mas sim dos vários outros que moram comigo dentro de mim.
domingo, 20 de abril de 2008
Sentido Imaginativo
Imagem de Hieronymus Bosch
terça-feira, 15 de abril de 2008
Ponto
Imagem de Salvador Dali - Untitled - Set Design (Figures Cut in Three), 1942
domingo, 13 de abril de 2008
Dor nas Costas
Mas voltando ao pensar do personagem, não é que ele não pensasse no futuro, mas aquela dor, que agora se tornara minúscula, porém insistente, parecia a seus olhos espreitá-lo, a procura de um deslize seu, um deslize que faria com que ela voltasse a galope, feliz, para as mãos de se amo que não a deseja. A dor para nosso personagem era como uma ancora que o fincava no presente, ele jamais poderia se imaginar no futuro com essa dor. Afinal, por mais que imaginemos coisas ruins para nosso futuro elas serão sempre utópicas ate que realmente se concretizem.
E simplório de mais falarmos da fome sem nunca atermos sentido, nossa fome nada mais é do que o nosso corpo nos pedindo o habitual de energia ingeridos religiosamente ou não, não é fome é ânsia, de chegarmos em casa e comer. Agora a fome de um habitante da catinga em plena seca nordestina é a esperança de, quem sabe, poder vir a comer algum dia. Percebe a diferença? Então, essa era a questão, essa dor já o incomodava tanto, há tanto tempo, que ele simplesmente não conseguia mais projetar seu futuro sem que ela não estivesse presente.
Pelo menos não estaria sozinho, pensou ele, enquanto estiver com minha dor sempre poderei contar com alguma coisa. E dela fez bengala. A mesma dor da qual tanto fugiu agora era sua aliada, e como sempre a tinha por perto passou a não precisar de mais nada. Tinha sua dor, não precisava da dor dos outros, a dor dos outros já não o comovia, pareciam pequenas perto da dele, a dele era superior, e quando não era, fazia-a parecer. Todavia o que ele não sabia e que por suas costas o milagre da vida trabalhava. O corpo não suporta algo que o aflige, diferente homem que se acostuma, se entrega, o corpo luta em silencio. Ele luta em silencio porque cansou de gritar, o homem se habitua porque cansou de lutar.
E na luta solitária e silenciosa o corpo jamais perde, pois a derrota para o corpo é a morte, enquanto houver vida à luta, mesmo que ninguém a perceba.
Abriu os olhos e não quis se levantar. Suas costas doíam, e a vontade de permanecer naquele instante imóvel lhe pareciam a mais confortável possível. Enrolou mais uma hora na cama. Novamente abriu os olhos. Suas costas ainda doíam, porém sua vontade mudara. O que lhe impelia agora era a simples vontade de fumar um cigarro e tomar um café. Ao se levantar percebeu que suas costas não doíam mais, ele não o percebera antes porque não havia tentado se mexer antes, simplesmente sabia que estava lá, não precisava mais senti-la. Imagine qual foi seu espanto quando viu que a bagagem da dor não estava mais lá.
Ela havia esvaziado o guarda-roupa e partido, sem nem ao menos lhe deixar um bilhete, era o mínimo que ela poderia lhe dar, afinal foram anos de convivência, ele já conhecia todas as suas manias, seus trejeitos, sua forma de ver o mundo se baseava na dela, ele dependia dela pra viver. É como se em um mundo sem dor ele parece-se não estar vivo, parecia flutuar, sem esperança, sem futuro, pisava no chão e não sentia mais nada. Tentava se lembrar de quando não queria a dor por perto, mas não conseguia mais. Apegara-se a ela. Então, sentado na cama começou a chorar, o choro que para muitos deveria ser de felicidade era em verdade de medo, de insegurança. Queria viver, mas viver sem dor, não sabia se seria capaz.
Levantou, ainda de pijama, abriu a porta do seu apartamento, e subiu as escadas até o terraço. Não era muito alto, tinha quatro andares no máximo, considerando o térreo. Estava sozinho, nem os pombos estavam lá aquela hora. Foi ate o parapeito, olhou para baixo, a rua, que normalmente é pouco movimentada, a exceção dos dias de feira, estava deserta, e o sentimento de vazio só crescia. O mundo inteiro parecia ter se mudado para outro mundo e o deixado ali, não como dono deste mundo antigo, mas como exilado, como desnecessário. E a dor, sua companheira de uma vida inteira, com quem contava, também o abandonara naquela manhã.
Ele subiu no parapeito, olhou mais uma vez para baixo, só para ter certeza de que estava mesmo só, fechou os olhos, e lentamente pendeu seu corpo para frente. De olhos fechados não sabia se estava preste a cair ou se seu corpo penderia ainda mais pelo vazio. Foi quando sentiu uma puxada nas costas, rapidamente imaginou se não seria a dor que retornara, ao menos para se despedir. Seu corpo pendeu para traz e tocou de forma brusca o chão do terraço. Abriu os olhos e viu uma moça, ela que mais tarde se identificaria como sua vizinha de cima, lhe contou que ao ir jogar o lixo fora notara ele se dirigindo ao terraço, e que estava pálido e com uma aparência bem ruim, ela usou nestes termos para não dizer que seu vizinho estava com cara de suicida, se é que suicida tem cara.
Ela o levou para casa e lá eles conversaram. Ela lhe contou que estava passando por uma situação bem parecida, e enquanto os dois conversavam foram percebendo o nascimento de um novo futuro, uma nova esperança, ele achava a moça divertida, imaginou filhos com ela, uma família, sabe?
Poft, foi o som que fez seu corpo ao bater no térreo de cabeça. Tudo se tornou escuro. Por mais ou menos trinta segundos pode ouvir a voz de uma moça, que, entre lagrimas e gritos, dizia que este corpo era do seu vizinho de baixo. E lá ele ficou, a dor que ele tanto procurava não voltou, a rua estava lotada, era dia de feira, só ele não vira, sua busca chegara a um fim, não posso dizer que foi seu ultimo fim, pois sendo meu, parte de mim, posso vir a precisar dele um dia.
Abri os olhos e não quis me levantar. Minhas costas doíam, e a vontade de permanecer naquele instante imóvel me pareciam a mais confortável possível.
Imagem de Edward Hopper
Ps.: A reedição desse texto neste novo blog, bem mais organizado, foi em homenagem a uma menina a qual deposito grandes esperanças de que um dia se torne uma grande escritora.
Se, eu não poder publicar seu livro, me permita ao menos publicar um artigo teu.
Beju.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Falta de Luz
Hoje faltou luz aqui na rua, porém dessa vez a companhia de energia avisou. É realmente surpreendente. Visto que sempre nos pegam de surpresa, até quando planejam. Entretanto uma coisa era de se esperar, ela não conseguiria cumprir um prazo, isto sempre foi pedir demais. Acabou a luz, liga para empresa; senhor, estaremos concertando o problema dentro de uma hora; é, dentro de uma hora qualquer.
Bem, estas coisas acontecem, mas não é por isso que escrevo. Escrevo para lhes dizer o quanto sou apaixonado pela escuridão. Não falo do escuro parcial, nem do escuro iluminado por estrelas e pela lua. Falo dá total ausência de luz. Aquela na qual, uma vez inserido, você passa a não enxergar, uma cegueira forçada. Instintivamente arregalamos nossos olhos como que para ver se através de orifícios maiores nos é possível à apreensão de luz, entretanto esta não existe. Em um dado momento somos naturalmente levados a piscar, e deste piscar nos vem o espanto, pois ao abrirmos os olhos vemos tanto quanto de olhos fechados, e isso não nos é comum nem nas noites mais sombrias.
Que fique claro, não somos nos que entramos na escuridão, é a escuridão que nos possui. Ela não avisa, você só a percebe quando tenta não vê-la. A sensação de impotência que insurge em nosso peito, faminto de luz, necessitado de imagem; esta angustia claustrofobica de paredes inexistentes que fecham nossos olhos, e aguardam ansiosas pela confirmação de nosso toque, que clamam por nosso reconhecimento para existirem.
Todavia, a beleza da escuridão esta exatamente no oposto do que acabei de revelar. A beleza da escuridão total esta em simplesmente pararmos e escutarmos. Isso mesmo. Não podemos tocar a escuridão, e é exatamente por isso que ao vê-la procuramos desesperadamente algo sólido em que nos agarrar. Um chão, uma base, seja de localização, seja de existência, procuramos provas de que o mundo continua lá onde o deixamos e que não é porque não o vemos que ele deixou de existir.
Daí a escutarmos. Nos e nossos inúteis olhos arregalados. O silencio que é gerado pela escuridão é o silencio da solidão, do verdadeiro encontro do eu com mais ninguém, nem com ele mesmo, na escuridão só existe um. Não vá imaginar, pelo que venho dizendo, que pretendo cegar-me, ou que julgo ser a cegueira algo bom ou ruim. Pois é exatamente por não me ser costumeiro que considero esta forma de não ver tão interessante, “visto” que se cego fosse, provavelmente me apaixonaria pela luz que dá vida aos objetos. O que torna mais maravilhosa ainda esta experiência de não ver é o fato de não controlar nem seu começo e muito menos o seu fim, mesmo sabendo, e isso vem ainda a lhe render um gostinho de quero mais, que a qualquer momento tudo novamente se acenderá. Seja pela boa vontade da empresa de energia ou pela do Sol, esta última, convenhamos, bem mais segura.
Como falei, minha alegria tendia ao fim, mesmo com algumas horas de atraso, a luz retornou. E com ela pude ouvir gritos de alegria, ao que tudo em dica, eles se reencontraram com os seus respectivos eus, enquanto eu, mais uma vez, me perdi do meu.