quarta-feira, 9 de julho de 2008

Primeira Parte – Apresento-lhes o Circo


Ensaio Circense- Doppelgänger

A vida itinerante

Primeira Parte – Apresento-lhes o Circo

Estava anoitecendo na cidadezinha de “Lugar Nenhum”, dentro da lona todos davam as mãos e rezavam para que tudo corresse bem naquela noite de apresentação. Naquele dia, enquanto rezavam não sabiam, e nem teriam como saber a tragédia que se precipitava sobre o circo. Talvez alguma entidade deseja-se avisá-los, pois naquela noite a chuva que caíra não poderia ser explicada nem pelo mais capacitado centro meteorológico. O dia fora bonito, o céu sem nuvens anunciava uma boa noite de apresentação. A necessidade de um dia claro e uma noite sem chuva nomeava o circo, circo Bom Tempo. O nome era mais uma grande ironia do apresentador e também dono de maior parte do circo, de nome Charles, já que a lona, de um vermelho sangue com listras amarelas nos tempos áureos, hoje se encontrava mais para uma peneira do que para uma lona, nem mais os remendos lhe eram possíveis de arrumar. Nas noites de chuva todos dizem que Charles, logo após cancelar as apresentações ficava em seu trailer, abria uma garrafa de uma cachaça bem vagabunda e chorava, chorava copiosamente. Os mais íntimos dizem que chorava por lembrar dos seus tempos áureos, tempos em que as pessoas gostavam de ir ao circo, gostavam da magia do circo, da alegria do palhaço, da ilusão do mágico, das piruetas dos equilibristas e do desafio a gravidade do malabarista. Hoje a tevê parece bastar para apresentar tudo isso.

Charles idealizara o circo já havia dez anos, antes chamara-o de Frissom e agora passou a Bom Tempo. Ele e o irmão venderam todos os bens da antiga família de comerciantes e caíram na estrada. Desde sempre Charles cuidou das finanças e da apresentação dos espetáculos. Já seu irmão, Pietro, que desde cedo havia entrado para escola de circo, era junto com a esposa a dupla de trapezista, e seu filho que na época tinha apenas 7 anos já começava a dar os primeiros passos no picadeiro como o palhaço bolinha. Conforme rodavam o país agregavam cada vez mais artistas, entretanto de uns três anos pra cá o que mais faziam os artistas eram sair do circo em vez de entrarem, nem mais as crianças antes tão animadas, aponto de ate fugirem de casa, iam mais ao circo, sequer para assisti-lo, quanto mais para dele participar. Os demais artistas não eram da família, ou pelo menos, não de sangue, apenas de circo. Todos possuíam uma história de superação, com pitadas de magia e um odor de fantasia. Entretanto não posso contar-lhes a história de cada um desses, nem se as soubesse, essa não é a razão pela qual estou aqui.

Chamo-me K., sou policial e estou investigando um crime ocorrido nas proximidades de onde está instalado o circo. Como disse, a chuva parecia que não iría ceder, mais nesse dia, mesmo com ela, como que em uma homenagem de luto aos recentes acontecimentos o espetáculo prosseguiu. E eu da arquibancada, de metal armado como um quebra cabeça infantil, observava o picadeiro. Nele os suspeitos, que até então não se sabiam como tais, se apresentavam a mim como em uma ópera dramática ao som de Beethoven. Passavam de um lado ao outro, ora suspensos no céu, ora em bocas de feras, ora mascarados de palhaços. As gotas que escorriam da lona até o chão de terra batida onde formavam poças enlameadas, quando caiam a luz dos refletores pareciam flocos de neve esbranquiçados cujo som eu sabia não poder escutar, apenas imaginava, tal como também imaginava quem poderia ter cometido o crime que me trazia aquela noite aquele espetáculo. Um crime tão bárbaro e no dia seguinte se apresentar sorrindo, como me era estranha aquela cena. Fiquei pensando, se eles soubessem que a polícia desconfia de um deles e não de um estranho do qual nunca tenham ouvido falar, será que mesmo assim estariam ali? Sei que o assassino estava ali, não em homenagem mais em comemoração a ilusão de nunca ser pego. Ao menos era o que essa pessoa pensava.

Continua...

Imagem de Marc Ferrez

3 comentários:

Mayara Bandeira disse...

Vai, vai, vai começar a brincadeira...

Só que agora vai demorar mais um pouco pra continuar... né.

Vicky disse...

vamos atualizarrr...
e sobre o lançamento?
foi dia 20 neh?
qnd que está disponivél o livro?

Leopoldo Duarte disse...

Fala rapaz!
voltei a ler o seu blog
escreveu um livro?

abraço
Leop