domingo, 24 de agosto de 2008

Terceira Parte – O Amor


Ensaio da Morte do Amor

Ainda vivo fugi. E pelo deserto andei umas 10 horas sem nada achar. Até que o fatídico aconteceu. Com o fim da gasolina, com fome e sede, o carro parou e eu adormeci.

Seria esse o meu fim...

Terceira Parte – O Amor

Quando sai do carro me dei conta que havia apenas torcido o pé, não o havia quebrado como pensara antes. Mesmo assim andar ainda era difícil, e isto me obrigou a parar de andar alguns metros após ter começado minha fatídica caminhada, não muito longe de onde abandonei meu carro. Alguns metros mais adiante eu caí.

Quando acordei percebi que estava sonhando, sabia que era um sonho pelas aberração que o formava. Eu. Um fundo branco. E Dinora. Quem é Dinora, vocês devem estar se perguntando. Bem, ela foi a única pessoa que me amou e mais tarde eu viria a descobrir que foi a única pessoa que eu amei. Ela morreu a sete semanas atrás. Fiquei sabendo através do jornal que lia em uma segunda-feira chuvosa, no dia do nosso aniversario do primeiro encontro. Coisa de casal apaixonado, só quem já esteve na mesma posição saberia explicar essa idéia de comemorar a primeira vez em que um casal sai junto. Memórias das roupas aos gestos, ela tinha tudo isso gravado na sua linda cabeça quando nos separamos. E isso já completava vinte anos. Não me perguntem porque me separei, já que foi uma iniciativa minha, pois nem eu sei ao certo. Eu queria ser livre. E achava que liberdade era não depender de ninguém e que ninguém dependesse de você. Mas isso nunca iria ocorrer.

Naquele sonho Dinora estava conforme eu a havia deixado, linda e com um sorriso que era só seu na face. Fumava um cigarro enquanto segurava um copo de vinho na mesma mão. A outra mão estava apoiada em uma cadeira que acabara de brotar ao seu lado naquele exato instante. Vestida com um comprido vestido vermelho e um sapato combinando. Não sei ao certo se combinava ou não, mas, como sempre eu lhe falava, tudo nela combinava. Ela largou da cadeira e começou a se aproximar de mim. Rebolava enquanto andava na minha direção, parecia que a qualquer momento poderia quebrar em dois, de tanto que rebolava. Não pude esconder minha excitação. Ela notando sorriu, eu notando que ela notara me envergonhei. Não por me reprimir, mas por não conseguir esconder o quanto ela ainda me dava prazer. De repente a cadeira que estava um pouco mais atrás dela desapareceu, e no mesmo instante em minha mão apareceu uma outra taça de vinho. Ela já bem próxima com sua mão esquerda me rodeou o braço, para que entrelaçados bebêssemos juntos. Bebi. Poucos segundos depois o chão, que não podíamos ver, apesar de senti-lo, desapareceu sobre meus pés. Eu e ela caímos. Tentei me agarrar a alguma coisa mais não havia nada. Olhando para Dinora e vendo o seu desespero e suas lagrimas, iguais as do dia em que nos separamos, tentei desesperadamente agarrá-la. Entretanto quanto mais me esforçava mais ela se afastava. Ela caia, no que eu supunha ser para baixo; a única direção possível para a queda, bem a minha frente, quando as suas costas eu vi o chão de paralelepípedos de uma rua. Uma rua qualquer, indiferente a sua existência familiar ou não, mas de uma existência capaz de nos machucar. A rua parecia engoli-la e eu nada pude fazer, apenas chorei. Dinora estava estatelada no chão da rua, eu ao seu lado chorava. Viu o que você fez, ouvi de uma voz.

Eu reconhecia aquela voz, todavia não sabia aquém poderia pertencer. Levantei meus olhos do corpo de Dinora e reconheci Alberti, que não mudara nada desde que deixei a cidade. Ele era meu velho amigo de infância, ele era o irmão de Dinora. E bem ao seu lado ajoelhado no chão, no lado contrario ao do corpo mas na mesma posição que a minha, agora estava Jorge, pai de Dinora. Vestia o que por tantos anos o vi usar, o uniforme policial. Eles bem na minha frente me xingavam, eu bem na frente deles chorava. Até que um silencio, rompeu o som das palavras, apenas lhes restando os gestos labiais que não pararam, só o som que essas palavras emitiriam normalmente se calou. E deitada no chão, ao redor de uma poça de sangue, que mais parecia uma aura, Dinora falou. “Por que me abandonou?”.

Eu lhe respondi. Disse que era jovem; que achava que tendo novas aventuras poderia voltar novamente pra ela; disse que não queria me prender a ninguém; disse que a amava mais que não a queria, pois naquele instante querer-lhe era magoá-la, disse-lhe tantas palavras...mas delas nenhum som saiu. E ela novamente me perguntou. “Por que me abandonou?”. E finalmente palavras saíram da minha boca, e eu lhe disse. “Por que não sabia que te amava, e quando descobri não sabia até quando te amaria...”. Ouvindo o som de minhas palavras não pude continuar pois ela assim me destruiu. “Eu só a você verdadeiramente amei, me tranquei do mundo, me tranquei de mim, e assim por vinte anos vivi. Quando, depois de vinte anos voltei para o mundo, ainda te amando, por outro enfim me apaixonei. Tendo esses vinte anos perdido e finalmente compreendido que o amor por você foi uma ilusão, e que pior foi uma ilusão só minha, eu me matei. Pois não queria me iludir, os anos que passei te amando não poderiam ser em vão. Então preferia morrer te amando a descobrir que nunca te amei de verdade”. Nesse instante eu já não chorava mais. Eu havia finalmente percebido ela não me amou, ela amou a esperança de que eu voltasse a lhe amar. E eu, covarde que sou, fugi da minha cidade natal, deixando tudo pra trás porque não tive coragem de dizer-lhe que não lhe amava mais. Ela, também covarde, se matou por não querer ver que eu não lhe amava, quando percebeu que seu amor se baseava na esperança que tinha de ser amada, não por mim, mais por alguém, já era tarde de mais.

Os homens a minha frente, seu pai e seu irmão, foram envelhecendo. O tempo que passou, deduzo cerca de vinte anos, fora transformando-os no caminhoneiro e no policial que eu vira a pouco no deserto. E aos poucos, conforme os homens envelheciam, Dinora sumia, e o fundo que era branco novamente voltava a paisagem do deserto. Os homens se definiam cada vez melhor, até, finalmente se igualarem as figuras que anteriormente me perseguiram. Um virou pro outro e disse: “parece que finalmente ele esta acordando”, e o outro respondeu: “já não era sem tempo”. Eles se agacharam a minha frente e me contaram o porque de Dinora ter se matado. Eu um pouco tonto lhes disse o que Dinora havia me contado, e não a simples idéia que eles tinha de que ela se matou por me amar. Alberti me revelou que havia se tornado caminhoneiro e que após a morte da irmã soube por um amigo em comum que eu havia largado o emprego e que começara a beber. Assim após me encontrar foi me drogando paulatinamente, até que eu desesperado, enfim viesse atrás daquela que sempre me amou. Em busca de uma resposta para morte do amor.

Pare de pensar, retroceda, ignore o que viu, viva do que sentiu.

Eu que procurei o amor por toda a parte, sendo induzido a isso ou não, finalmente havia-o encontrado. Não na palavra de Dinora que me largara por uma caminhoneiro, este por sua vez que pagou um policial corrupto para me afastar dela e de minha filha, me levando até a fronteira e me deixando a mercê da própria sorte. Após é claro me drogar visivelmente. Minha lucidez finalmente voltara. Enquanto abria os olhos, não da visão, mais sim do entendimento; da razão, pude ver; melhor perceber, a presença de dois coiotes que esperavam calmamente o meu suspiro final, para que assim, sem esforço aproveitassem da minha carne. Eu, sozinho, contava exatamente a mesma historia que lhes conto agora para esses dois animais, muito mais humanos do que todos esses que até aqui me trouxeram. Corruptos, corruptíveis. Eu em minha solidão, não sei se pela impressão tão imensa do deserto, se pela insolação, ou a proximidade da morte, percebi que a forma mais pura do amor é o amor próprio. Pensando isso me vi, em pé, de frente, no meio dos dois coiotes. Pisquei. E me vi sentado, me olhando em pé. O eu sentado pendeu a cabeça em direção ao chão. Eu me virei e andei. Não sei para onde, nem por que. Porém, uma coisa eu sabia, que eu me amava. E pensando isso o deserto não se estreitou, o Sol não se amenizou, e a idéia de que eu poderia morrer não sumiu. Entretanto eu estava mais forte, sabia que podia contar sempre com alguém, que sempre estaria –lá. Eu.

Hora do remédio Adrian...As folhas continuam caindo...

Na medida do possível, Fim.


Imagem de Autor Desconhecido

4 comentários:

Vicky disse...

(...)

é você matou o amor.Descobrir-se no amor proprio pra mim é crime hediondo sem direito a habeas corpus...Preso em nome da lei,peloamordedeos.


Vái ser um livro, pq romantismo ta foda...hahahahha

Vicky disse...

* Vá ler um livro...

Vicky disse...

não entendi seu comentario, cada vez mais subjetivo com um tanto de poesia.
hahahahaha

Vicky disse...

domingo...
favor postar
=*