domingo, 8 de fevereiro de 2009

Bebedeira



Minha cabeça girava naquele dia, ou melhor, naquela noite. Meu estomago doía e se nauseava, minha vontade era deitar e ficar em qualquer lugar entre o bar e minha casa, não importava. O bar já estava fechado e meus pés doíam o suficiente para me fazerem sentar. É engraçado, pelo menos para mim, pensar na possibilidade de que meus pés tenham ordenado algo. Mas foi como se mandassem em mim. Sentado afrouxei os cadarços do meu tênis. Que palavra feia, cadarços, apaguem-na, eram barbantes, em meu allstar haviam barbantes. Sabem como são metidos a modernos diferentes esses adolescentes, pois bem eu me enquadrava entre eles.

Além dos tênis quadriculados amarrados com barbantes, estava eu sentado na sarjeta sem meias com uma calça listrada uma cueca furada e uma camisa do Mussum, isso mesmo o grande Mussum. Uns taxistas me enchiam o saco para ir com cada um deles, depois que disse não ter nenhum dinheiro me deixaram em paz. A rua começava a ficar deserta, meus amigos que moravam longe dali já haviam ido todos embora. Eu, bêbado, me esquecera de pedir a eles o dinheiro da passagem. Logo tive de parar de enrolar e começar a andar.

Com os pés ainda doendo tirei o tênis e com os barbantes amarrados um no outro os pendurei no ombro e comecei a andar. Do bolso esquerdo da calça tirei um cigarro, aproveitando para contá-los, eram quatro, agora três. Acendi, e recomecei a andar. O caminho era escuro porém muito tranqüilo, acho até que posso dizer que qualquer caminho deserto é de certa forma tranqüilo. Comecei a pensar, se não passa ninguém aqui, ninguém também ficaria aqui para assaltar alguém, afinal quem quer assaltar precisa de alguém para ser assaltado. Mas tranqüilo dei a ultima tragada no cigarro e o joguei em uma poça de esgoto próxima. O barulho que fazia me fascinava. Não sei onde li alguém que pensava de forma semelhante. Se não me engano foi em uma noite dessas em que fazia o mesmo trajeto, e conversava com as mesmas pessoas, eu.

Meu momento de tranqüilidade tinha de ser interrompido em algum momento, e foi. Antes que pensem em assalto, batida de carro, gangues de rua, adianto que não foi nada disso. E digo que era uma revolta, estava no meio de uma revolução. Tudo girava, o silêncio começava a fazer barulho, meu estomago dominara o meu corpo. Meus joelhos não quiseram se dobrar perante o novo senhor, mas a cabeça sim, e na mesma velocidade em que ela se dobrava de dentro de mim saião os escombros da revolução. Apresados em sair do que antes fora seu pais corriam por entre minha boca e meu nariz. Até dos meus olhos escorreram mesmo que diferentes dos demais, talvez fosse a realeza do que antes tinha sido o seu império.

O dia amanhecia e eu fumava meu ante penúltimo cigarro, na esperança de tirar da minha boca os restos de uma noite de luta. Ah o sabor da derrota, como é asqueroso. Ao menos me sentia melhor, no mínimo o novo governo instituído deve ter proposto melhorias, porém estas só devem durar até a próxima sexta-feira, até lá aproveito a calmaria. As pessoas passam por mim como passam por um nada, um nada que pode feri-las é verdade, vejo isso em seus olhos, mas ainda assim um nada. Chego em casa e a própria casa já vive. Na intenção de matá-la fecho as cortinas e deito na cama. O dia vai me perdoar, mas hoje nem sei se vou dar o ar de minha graça à tarde, quanto mais ao dia.

Imagem de Guido Reni

Um comentário:

Vicky disse...

bebe fdp!


vomita fdp!



uma roupagem dramática num dia de bebedeira, un tanto interessante, mas ainda prefiro romances.