domingo, 8 de março de 2009

Curtas



Nada, nenhuma idéia genial nem ao menos um pensamento furtivo. Mas tenho que escrever; era o que ela se dizia todo dia. Linda e inteligente por natureza. Delicada e safada por esporte. Sedução não era para ela um jogo, mas um prazer; nem ela própria entendia seus motivos e por isso também não devemos tentar entendê-los. Era simples em roupas fúteis e fútil em lugares simples e assim se destacava. Aliais se não se destacasse por isso se destacaria por todo resto. Era uma criatura fascinante. Seus cabelos entre meus dedos deixavam um cheiro que me faria lembrar dela por semanas. Nesta noite estava eu em seu apartamento. Enquanto eu trocava de canal ela, nua, na escrivaninha resmungava a sua necessidade de ter de escrever. Quando lhe perguntei o por que dessa necessidade ela me respondeu o que para muitos pode parecer escatológico, mas para mim pareceu apenas um exemplo necessário. Disse que escrever para ela era como espremer uma espinha, você pode não espremê-la e deixar que ela se desfaça sozinha ou pode simplesmente pressioná-la até que ela ecloda e de lá saia todo o pus. Se ela não escrevesse aquela espinha dentro dela eclodiria ou sumiria em algum momento, agora se ela pressionar até que saia o pus ela terá todo controle sobre aquele sentimento. E era isso que ela queria, total controle.

Perguntei então se estava faltando algo pra ela. Então ela se levantou, e aqueles seios tesos com bicos estendidos do carinho que o ar gelado do ar-condicionado lhes fazia caminharam pela sala até a estante. De costas se agachou e se agachando vi toda a conformidade das curvas de suas pernas em aquiescência como a lombar onde no centro saltavam-me aos olhos a marca do biquíni já um pouco perdida pelos tempos de inverno que se tem feito durante o dia. Novamente se levantando estendia um charuto ao qual aceitei e um cinzeiro. Abriu a garrafa de wishk e em dois copos serviu até a metade. Foi até a cozinha de onde voltou com três cubos de gelo em cada copo. Sentando na cama acendemos os charutos e brindamos. Uma hora depois eu cansado de tanto transar dormia, enquanto ela encostada nas costas da cama com minha cabeça em seu colo escrevia em um caderno velho palavras que eu nunca cheguei a ler. Quem sabe sentimentos perdido, ou novos sentimentos adquiridos.


Imagem de Salvador Dali

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