quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sentimentos de Minha Condição


A! mais que ódio. Ódio de ser humano. Ódio de lidar com seres humanos. Não sei o que dizer. Estou aflito e, pior do que isso, tenho medo de ser naturalmente aflito. Amo não nego. Amam-me, entretanto isso independe da minha vontade. Não quero amar e nem ser amado. Amar implica em algum momento sofrer, pois só amando diria que gosto, assim sofrendo descubro que gosto mais do que deveria. Nenhuma pessoa jamais me pertenceu, por mais que se amarre aos meus braços serão apenas braços que terá. Porém como é bom ter alguém pra chamar de meu. Mas não posso ter, pois tendo daria a brecha de me terem e eu não quero ser de ninguém, quero ser do mundo, mundo frio e solitário. Não queria que você me amasse, mas você me ama, não queria te amar e por isso não te amo, a! se isso fosse verdade, as coisas seriam bem mais simples. A verdade é que tenho medo, medo que por não te chamar de minha te perca para o mundo, tenho tanto a te oferecer e acho que você a mim o mesmo, talvez até mais. A! egoísta que sou, ser vil e vulgar, imagino os outros não sendo merecedores de seu perfume, de sua boca e de seu corpo, seria eu pretensioso o suficiente para achar que uma pessoa se basta em outra? Seria essa a definição do ciúme, a pessoa querer que a outra se baste nela?

A! o ciúme veneno maldito que em poucas doses nos põem no mais divino sonho de realização e que em altas doses nos remete as mais tristes formas de depressão. Maçã maldita e dentre as frutas a mais doce. A verdade é que não quero mais ver verdades, não preciso delas, elas não me bastam, me ferem. Minta para mim, diga-me que somos muitos e que você é só uma e é só minha, minta-me, invente-me, não me peças verdades, pois não as possuo, e mesmo que as possui se continuaria negando que as tenho. As verdades me empoem medo, nelas vejo-me por inteiro, enquanto que nas mentiras me fantasio de pierrô e minha mascara procura a columbina, quando não mais a quiser não preciso lhe dizer, apenas troco-me a mascara e ela própria perceberá que mudei.

Desculpe-me se lhe sorrio, mais lhe ver é uma das melhores sensações do mundo, e dela vou sorrir sempre. Todavia um dia se não mais lhe sorrir saiba que não foi você quem mudou, mais sim eu que me mascaro de outra forma. Beijar-lhe a boca, beijaria, fazer-lhe carinho, eu faria, amar-lhe o mais intensamente enquanto juntos, amaria. Talvez esse seja o meu erro, dar me por inteiro, talvez se me guardasse não me apaixonasse, não apaixonaria. Mas o que sou em partes, ou melhor, o que sou eu por inteiro? Se em algum momento fui por inteiro mostrem-me e lhes direis que aquilo não era eu senão confuso de mim mesmo.

Raiva, ódio, rancor e até quem sabe magoa, lindos sentimentos de minha condição humana, sentimentos que provam que eu, e também você, existimos. Um dia estava eu com outro eu quando lhe perguntei -Será que estou eu fadado a magoar e magoar-me?, e ele me respondeu que “eu ainda não magoei a metade das pessoas que ainda vou magoar”, a! dor suprema que se abate em meu peito, arranca-me o coração mas não me deixe assim viver. Estas foram as últimas palavras que o eu perguntante me falou, depois só silêncio. Tum tum, tum tum, maldito, por que não se calas, já não se apercebera que não falo mais contigo, não quero assunto, morreras pra mim. Maldito dia que larguei a estação, devia ter lá permanecido. Lá é o meu lugar.

Imagem de Balthus

3 comentários:

Vicky disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vicky disse...

''Maldito dia que larguei a estação, devia ter lá permanecido. Lá é o meu lugar.''
Senhores Passageiros do Trem Bala,boa noite...

Natalia Vieira disse...

"Tum tum, tum tum, maldito, por que não se calas, já não se apercebera que não falo mais contigo, não quero assunto, morreras pra mim."

Pois é!