domingo, 7 de setembro de 2008

Árvore da Vida


Procuro um livro. É um livro específico e bem difícil de se encontrar. Não sei se o é difícil de se encontrar porque o procuro, ou se o procuro porque é difícil de se encontrar. Afinal se não fosse difícil de se encontrar já o teria encontrado, logo já não mais o procuraria. Se o procurasse porque é difícil de se encontrar eu teria assim a probabilidade de jamais o encontrar, exatamente por ser difícil.
Assim percorro as livrarias do centro da cidade. Com o Sol na minha nuca e um peso em minhas costas. Minha busca é dispersa. Assim é, pra que eu não me enlouqueça, buscas secundarias aliviam a pressão da principal.
Vejo a vida dessa maneira. Busca infinita de significados, enraizadas por buscas secundarias de significantes. Que ciclo vicioso é a arvore da vida. Mesmo assim tão diversa, tão ambígua, contradições que não se contradizem, signos que nada representam. O fim de sua existência não se dá, não existe. Pois ela nunca o realizará. Quando morrer, e será breve, da morte nada levará, da mesma forma de que nada levou do seu nascimento.
No centro da cidade finalmente o encontro. O vejo de longe, lá está ele. O livro que tanto procurei, o tronco da minha árvore. Aperto o passo, tão firme e seguro quanto o do ônibus que vem em minha direção. Ouço a sua buzina, os pneus travando seus gomos no chão cantão e deixam suas marcas, como garras no asfalto.
Minha existência termina. Independentemente da realização ou não do meu encontro. Sou perfeito. Sou tudo o que podia ser. Não sou mais nem menos, sou perfeito, tal como uma pérola que se molda no ventre de uma ostra na mais imensa escuridão da qual pudesse ela lá moldar.
Sou finalmente tudo...

Imagem de William-Adolphe Bouguereau

Um comentário:

Vicky disse...

O melhor que se pode oferecer é no fim,o fim é o momento da perfeição,a natureza das coisas é o fim, e o fim é o seu melhor.Em se tratando do fim da existencia, momento unico que se deve cristalizar, o fim é belo.Legal é que cada vez que li esse texto entendi algo novo.

Mas eu não gosto de fins.
E eu não gosto do espirito suicida dos seus personagens.Há tanta vida lá fora...e aqui dentro, é gente se tacando dos predios, gente se tacando na frente de onibus, gente encontrando o amor proprio como consolo.São pedaços de Adrian, pedaços de uma natureza desarmoniosa,pedaços de Adrian. Seria um pessimista, ou apenas um existencialista interrado?
Seja o que for...Continue mostrando seus pedaços Adrian.Eles me fazem refletir.
(...)