Na vigésima quarta ilha me apaixonei. Lá descobri o canto e a destreza de um João ninguém, mas aquele ninguém eu queria só pra mim. Porém quando disse que eu o levaria comigo na minha viajem, foram essas palavras que eu ouvi:
- Medo. É isso que você sente em me amar. Medo. É isso que você sente em amar qualquer um. É a incerteza do meu dia somada a incerteza de si mesmo que gera a insegurança que você sente. E o engraçado que pra ouvir o meu canto você me prende. Acusa me de coisas que eu não fiz e me limita em si mesmo. Só que você não vê, ou talvez só finja não ver, a verdade é que passaro que canta acuado morre solitário ou deixa de cantar. Infelizmente, pra você, sou joão-de-barro safo, e essa jaula em que me prendes foi feito é por mim mesmo, e sendo dela mestre eu a qualquer momento me livro dessa casa e vou morar é debaixo do céu. Acha que eu estou te expulsando? Muito pelo contrario se quiser venha comigo, mas cá comigo acredito que na liberdade fria do mundo preferirá o doce aconchego de teu medo muito bem vivido.
Ele quis me levar com ele, só que viagem de passaro sabe-se como é, são poucas as horas em que se tem o pé no chão. Preferi seguir meu próprio caminho dentro da minha fortaleza marina que era minha cama. Nunca mais vi aquele João ninguém. Só estávamos eu e as flores novamente.
Na vigésima quarta ilha, um ano depois, lá estava o João ninguém a se lamentar:
- Como queria ter nascido bicho racional pra carecer de amor.
Imagem de Federigo Andreotti
5 comentários:
queria ser bicho racional tb!!
sonífera Ilha
descansa meus olhos
sossega minha boca
me enche de luz
''Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.''
Adrian quer saber mais do que seus vinte e poucos anos, tava na hora neh de parar de chorar miséria, quero ver mudanças e continuidades.
;*
lindo
Postar um comentário