domingo, 1 de junho de 2008

O silencio audível


31/09/07 – 24:04 ou 00:04

Será que me tornei um ser noturno, será possível a um homem tornar-se noturno? Demoro-me horas a pegar no sono, em principio pensei que fosse de outro hábito, que detesto, entretanto como hábito não consigo largar, que é o acordar demasiadamente tarde, contudo mesmo acordando cedo e só me pondo a dormir a noite não consigo por vezes adormecer. E o que mais me incomoda não é o fato de não conseguir dormir.

(Aqui abro um parênteses emergencial, por que temos que viver entre vizinhos, não ligo, de forma abrangente para convivência com pessoas, mas sim com vizinhos. O que me foi delegado pelo destino, por exemplo, deu-se agora a aderir a juventude saúde e fica até altas horas da noite a pular corda no estacionamento do prédio, o que de dia pouco me incomodaria, entretanto no mar de silencio que é a noite, o estalar que a corda faz ao entrar em atrito com o chão acontece de tal maneira, em um tal estrondo, que faz até a mais paciente das criaturas perder seu tino social. Fecho aqui o parênteses.)

Assim, voltemos. Não sendo o fato de não conseguir dormir, isto também me incomoda, mas não é o principal motivo. O principal motivo é o pulular de idéias que parecem esperar que recoste eu a cabeça no travesseiro para só então começarem a saltar, tal como crianças naquele brinquedo pula-pula em uma festa de aniversario sem adultos, logo, até racharem suas cabeças mutuamente.

Tenho idéias do que vou fazer amanhã e do que vou fazer pelo resto da minha vida, faço planos e o principal os realizo mentalmente...

(e a corda não para)

...porém não tenho a necessidade de sonhar, eu os vejo e principalmente eu os sinto...

(se ainda fossem continuas as porradas, porém sua falta de preparo o obriga a parar a cada mais ou menos vinte saltos)

...e o fato de os senti-los me desperta. Lembro-me de fatos que me aconteceram e de fatos que eu queria que tivessem acontecido. Pego de um copo de vinho.

(Acho que a corda cessou. Vinho santo.)

Um dia me perguntaram se eu era capaz de ouvir o silencio, de prontidão respondi que sim, grande erro, entretanto a pergunta não teve uma continuidade, uma grande pena. Tendo minha resposta em mente venho aqui reformulá-la, sem porém contrariá-la. Possuímos cinco sentidos, talvez mais, fiquemos aqui com os cinco, um deles é a audição. Captamos através dela os sons produzidos por objetos ou por nos mesmos. Não faço aqui um parênteses por medo que acorda volte, contudo peço ao leitor que o imagine, aqui fica a pergunta, porque a porcaria do equilíbrio se encontra no ouvido?, quando estavam montando o corpo humano esta devia ser uma daquelas peças que cismam em sobrar quando agente monta qualquer coisa e assim a puseram em qualquer orifício, pensando bem, que bom que foi nos ouvidos.

Voltando a nossa questão, a audição humana não é das melhores, sendo assim, deixa de captar muito dos sons captados por outros animais e mesmo outros aparelhos. Quando falarmos que escutamos algo é porque este nos chegou aos ouvidos, porém não é apenas assim que escutamos, já que quando nada escutamos ainda assim escutamos, mesmo que seja a ausência de som. A princípio parece incoerente, mas não é, utilizarei um exemplo muito simples, o de um surdo, este jamais saberia se um lugar está ou não em silencio visto que não escuta e quando digo isso falo de que este não possui qualquer experiência com o som. Portanto só podemos perceber o silêncio através de sua não audição o que não significa que não o escutamos e sim que escutamos a sua ausência, o que não deixa de ser uma forma de ouvir.

Para utilizar-me deste exemplo é necessário que o surdo não possua qualquer percepção do som, pois, da mesma forma que os outros quatros sentidos, quando deles já possuímos idéias formadas estas nos ocupam o espaço que foi deixado pela lacuna do sentido perdido, porém quando nunca a possuímos esta jamais poderá ser associada a algo sentido partindo de uma pura idealização imagética.

Acho que vou dormir, o vinho faz efeito, entretanto se não conseguir volto pra terminar o assunto.

Imagem de Xu Beihong

3 comentários:

Natalia Vieira disse...

"mas então continuando o assunto..."
rararara

Acho q o problema do silêncio é q de tanto ouvirmos os sons eles ficam empregnados em nossos ouvidos e qndo a ausencia deles se dá, continuamos a ouvi-los como um zunbido atormentador e assim ignoramos o silencio e buscamos outros sons p substiruir o q nos incomoda...
Acho q isso pode até pode ser um metáfora da vida!rsrs
bjon

Vicky disse...

interessante,não tenho muito o que comentar sem me expor,então prefiro ser vazia,interessante.Preciso definir minha linha de comentarios,se falo sobre o texto ou sobre o autor,preciso. bjo.

Vicky disse...

não é o caso de sermais pessoal e sim mais sentimental,emocional,capitte?